terça-feira, 29 de maio de 2012

Fernando Collor de Mello é entrevistado por Paulo Henrique Amorim


Paulo Henrique Amorim entrevista, com exclusividade, o ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor de Mello, no Entrevista Record Atualidades, na Record News. A primeira parte da conversa foi ao ar ontem, às 22h. A segunda parte será exibida na próxima segunda-feira (4), no mesmo horário. O encontro, gravado no estúdio da emissora em Brasília nesta segunda-feira (28), teve como tema sua passagem pela presidência e a cassação de seu mandato.
- Fui absolvido pelo Supremo. E meu mandato? Não deveria tê-lo de volta?, questionou o senador. Ele revelou ainda: "Sem PC Farias não haveria campanha presidencial."
Collor comentou também a atuação do procurador geral da República, Roberto Gurgel, nas investigações contra Carlos Cachoeira:
-Não tenho dúvida que Gurgel cometeu um crime.
Collor lembra que tem como trunfo o fato de nada ter sido comprovado contra ele, depois de inúmeras acusações; e que nunca, jamais, em todo processo que o depôs da Presidência, agiu no sentido de impedir seja a imprensa, sejam os políticos, de averiguarem as informações. Confira a seguir a 1ª parte da entrevista.


Comentário de Said Barbosa Dib:

Ótima entrevista. Muito esclarecedora. Concentrando no aspecto da História do Brasil, o ex-presidente tem toda razão, pois foi realmente deposto. Você se lembra porque, efetivamente, Collor foi deposto? Quando o motorista Eriberto França foi usado como respaldo para as denúncias sobre o esquema PC Farias, o PT automaticamente encampou a história, a CPI tomou força e Collor acabou deposto por um “golpe de mestre” das elites políticas, simplesmente porque, pelo seu caráter forte (arrogância de um jovem de 40 anos), nunca aceitou se submeter aos esquemas e “mensalões” do Congresso que, em 2006, assistimos estarrecidos na TV, por exemplo. Tudo rápido e simples. Tiraram o homem de cena sem choro nem vela. O primeiro presidente da República eleito pelo voto direto após 25 anos, Fernando Collor de Mello teve seus atos ditos “ilícitos” julgados publicamente. E, de acordo com o depoimento do senador Pedro Simon (PMDB-RS), notório adversário de Collor, realmente “nunca criou nenhum obstáculo para que a CPI que investigou seu tesoureiro PC Farias” os apurasse, fornecendo-lhe, ao contrário, o apoio necessário do aparelho policial a ele subordinado. O então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Sydney Sanches (o Jobim da época, no sentido de politização do Judiciário), comandou a sessão do Congresso em que o chefe do governo foi cassado - e fez vista grossa para a ilegalidade flagrante da recusa em aceitar a renúncia do presidente, encaminhada em texto de próprio punho antes do julgamento. Collor fada disso na entrevista a PHA. Collor foi impedido (sofreu golpe de Estado), perdeu os direitos políticos por oito anos e nunca foi condenado a coisa alguma pelos crimes pelos quais foi punido com a perda do mandato. Mas, ainda hoje, algumas pessoas mal intencionadas execram o ex-presidente Collor sem nem bem saber o porquê, acusando-o de modelo e exemplo de uma grande “corrupção institucionalizada”. Mas ao mesmo tempo, estranhamente, não sabem identificar um único exemplo de corrupção, esquecendo até que Collor ganhou, repito!, todas as ações contra ele na Justiça, sendo inocentado de todas as acusações que lhe foram imputadas. E quando muito restou somente uma única e irrefutável acusação e "grande" exemplo de corrupção: um Fiat Elba. Não se trata aqui de tentar inocentar o ex-presidente Collor, mas tão somente de fazer justiça histórica e uma constatação: todo o alarde em torno de um propalado “mar de corrupção” da administração Collor resume-se a uma grande campanha de mídia cujo único dado apresentado seria um reles Fiat Elba. Parece até uma vingança surrealista dos carros nacionais, chamadas de “as carroças” por Collor, diante do processo de abertura e modernização iniciado pelo então presidente e que provocou o ódio de setores acomodados do empresariado. É isso mesmo. Todo esse alarde de "mar de corrupção" só por causa de um reles Fiat Elba, acusação feita a um homem rico desde o nascimento que, com certeza, não iria se sujar por tão pouco. A verdade é que PC Farias não tomou um único centavo do governo ou de verbas públicas. Nada que se aproxima do que ocorreu com a compra descarada de votos para a emenda da reeleição de FHC ou o “mensalão” de Lula. O grande crime de PC foi realmente tomar dinheiro de particulares, de empresários. Todo o dinheiro que ele arrecadou e amealhou antes, durante e depois da campanha, era dinheiro de empresários, que deram a Collor para ter seus interesses protegidos, mas que Collor simplesmente ousou atropelar, a começar por Roberto Marinho, e por isso foi sacrificado, vilipendiado, execrado e tirado à força da Presidência da República. Assim como a Globo e a Veja construíram a candidatura Collor para ser o anti-Lula, logo que perceberam que o presidente não iria comer em suas mãos, começaram a campanha para apeá-lo do poder. Quer dizer: no caso de Collor não houve o aparelhamento do Estado, a utilização de verbas públicas para comprar parlamentares, a utilização e desvio de dinheiro dos institutos de pensão e toda a recente ignomínia de FHC, por exemplo. E tudo isso é solenemente esquecido até hoje. É por isso que, quando se comemorou os 15 anos do “Código do Consumidor” (a única coisa realmente importante do governo Collor) não se ouviu ninguém dizer que foi Collor que o instituiu. Parece coisa de “pogroms” soviéticos que eliminavam os nomes indesejáveis do partido comunista dos livros de História e das fotografias oficiais.
Said Barbosa Dib é analista político e historiador em Brasília

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