A poucos dias de deixar o comando do Ministério Público
Federal (MPF), em 15 de agosto, o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, pode ver ressuscitada sua atuação na Operação Vegas, da Polícia
Federal. O procurador regional da República Manoel Pastana (da 4ª Região - Sul)
entrou com uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público
alegando haver “indícios fortíssimos” de que Gurgel prevaricou ao engavetar as
investigações do caso, em 2009.
A representação se refere, entre outros, à
subprocuradora Claudia Sampaio, esposa de Gurgel, e ao corregedor-geral do MPF,
Eugênio Aragão. As apurações da Vegas acabaram ampliadas na Operação Monte
Carlo, em 2011, na qual a PF descobriu o mapa do jogo ilegal em Goiás e a
ligação do ex-senador Demóstenes Torres com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que
levaram à cassação do ex-senador do DEM e à prisão do contraventor. As relações
do bicheiro com parlamentares, no entanto, haviam sido detectadas ainda na
Operação Vegas, que Gurgel não encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF),
órgão responsável por casos de pessoas com foro privilegiado. “Quando Gurgel
foi pressionado pela CPI do Cachoeira prestou informações que têm indícios
fortíssimos de serem falsas”, diz Manoel Pastana à Carta Capital. “Ele alegou
que o inquérito ficou parado por razão de estratégia investigativa de uma
operação controlada, que pode atrasar a ação policial. Pareceu gozar da
inteligência alheia dizendo que graças a essa estratégia a Operação Monte Carlo
foi um sucesso. Isso é um absurdo.” Em maio de 2012, na CPI, Gurgel afirmou em
ofício que não procurou o STF porque detectou apenas desvios no “campo ético”,
insuficientes para a abertura de ação penal. “A polícia, os procuradores e o
juiz encaminharam o caso à Procuradoria-Geral da República. É obvio que tinha
que haver alguma coisa no processo. Eles não mandariam se não houvesse”,
contesta Pastana. “Jamais a polícia encaminharia isso sem elementos. Mas o
processo ficou preso no gabinete dele. Se não estoura a Operação Monte Carlo,
estaria lá até hoje. Se um membro do MP faz isso estava na rua. Mas não aqueles
que têm a proteção do grupo que domina a cúpula.” Segundo o procurador
regional, Gurgel deveria ter acionado o STF ou devolvido o inquérito para
maiores diligências, mas não seguiu nenhuma das opções. “Não posso ficar com um
processo parado em meu gabinete por mais de 30 dias, pois precisamos dar um
andamento neste prazo. Ou envia-se de volta à polícia para novas diligências,
ou se denuncia ou arquiva-se. Não posso ficar quase três anos com um caso sem
encaminhamento.” Na representação, o procurador regional pede que o caso seja
apurado para verificar se a operação controlada existiu. “Não se pode
simplesmente alegar e não provar. Não creio ser possível esse tipo de operação
onde apenas um marido e uma mulher fazem parte dela. O procurador-geral diz que
não havia provas e fica por isso mesmo”, afirma à reportagem. A representação
chegou à Corregedoria do MP em 29 de julho, mas ainda não se transformou em
processo. O subprocurador-geral do Trabalho Jeferson Coelho, corregedor
nacional do órgão, está com o caso, mas não deve ter tempo de analisá-lo, pois
assume em 12 de agosto um posto de conselheiro no CNMP. Um novo corregedor
ainda deve ser escolhido para o caso, que deve ser analisado apenas no fim de
agosto. Contatada, a assessoria de imprensa de Roberto Gurgel não respondeu aos
questionamentos da reportagem até o fechamento deste texto.
Fonte: Carta Capital
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