Em discurso no Plenário nesta terça-feira (5), o
senador Fernando Collor (PTB-AL) voltou a atacar a atuação do procurador-geral
da República, Roberto Gurgel. Collor chamou Gurgel de “chantagista, ímprobo e
praticante de ilícitos administrativos e de crime de responsabilidade”. O
senador lembrou que em 2012 fez vários discursos com denúncias contra Gurgel.
Segundo Collor, o processo de crise e conflitos entre os Poderes da República
está vinculado à conduta de alguns agentes, como Roberto Gurgel. Collor disse
que, além de atitudes criminosas, o procurador-geral agora vem querendo
interferir nos outros Poderes. Ele ainda acrescentou já ter apresentado sete
representações nas instâncias de controle do Ministério Público e no Senado
sobre a conduta de Gurgel. Collor disse ainda que Roberto Gurgel trabalha
contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)37/2011, que
tramita na Câmara dos Deputados. Essa iniciativa demonstraria, na visão de
Collor, a incoerência de Gurgel. A PEC limita a competência para a investigação
criminal às polícias federal e civis dos estados e do Distrito Federal.
- Se de um lado ele quer garantir o direito de o
Ministério Público investigar, por outro ele se recusa ser investigado pelo
próprio Ministério Público – afirmou.
O senador afirmou que Gurgel solicitou a prisão
imediata de réus - como no caso do mensalão -, sendo que os acórdãos dos
referidos processos não haviam ainda sido publicados. Para Collor, houve ofensa
ao direito, além de desprezo às leis do país e à inteligência. O senador
criticou a demora de Gurgel em atuar em alguns processos e disse que causa
“inquietude” a condução de denúncia, motivada por depoimento do publicitário
Marcos Valério, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Collor,
há algo preocupante nesse processo “que ainda não se revelou completamente”.
Collor também informou que ingressará com mais uma
representação no Senado para investigar a atuação de Gurgel em relação a um
processo licitatório no Ministério Público Federal. De acordo com o senador,
houve um pregão eletrônico para aquisição de 1,2 mil tablets, no
valor de quase R$ 3 milhões, com “um direcionamento escancarado ao um dos
concorrentes”. Além disso, o pregão ocorreu no dia 31 de dezembro do ano
passado, às 16h, “ao apagar das luzes do órgão”.
- O que o Ministério Público faria se o fato
tivesse ocorrido em outro órgão? – questionou.
Renan Calheiros
Na visão de Collor, o procurador geral também tentou
interferir na eleição do Senado, ao apresentar a denúncia contra o senador
Renan Calheiros (PMDB-AL), eleito nesta sexta-feira (1º) presidente do Senado,
a uma semana da votação, depois de mais de anos em que o processo ficou
estagnado. Collor disse que essas iniciativas provariam suas denúncias sobre a
“prevaricadora conduta” funcional do procurador, como o vazamento de
informações à imprensa e a atuação com “conveniência política”.
- O procurador geral vem querendo jogar o Poder
Judiciário contra o Legislativo. O Senado não vai se mostrar submisso ao
Ministério Público nem aos demais Poderes. Estamos respaldados pelo voto
popular – declarou.
Jorge Viana
Collor ainda parabenizou o senador Jorge Viana
(PT-AC), que como vice-presidente dirigia sua primeira sessão. Collor disse que
era motivo de alegria ver o colega presidindo os trabalhos no Plenário. Ao
abrir a sessão, Jorge Viana agradeceu a confiança dos colegas que votaram em
seu nome “para tão honrosa função” e prometeu trabalhar para colaborar com o
Senado.
Agência Senado
Confira a seguir a íntegra do pronunciamento:
Senado Federal
Secretaria-Geral da Mesa
Secretaria de Taquigrafia
O SR. FERNANDO COLLOR (Bloco/PTB – AL. Pronuncia
o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Exmo Sr.
Presidente desta sessão, Senador Jorge Viana, Srªs e Srs. Senadores,
inicialmente, Senador Jorge Viana, gostaria de, em meu nome pessoal, transmitir
a V. Exª a minha alegria, como de resto de toda esta Casa, por vê-lo presidindo
a primeira sessão desta Sessão Legislativa e por sua eleição como 1º
Vice-Presidente desta Casa. Tenho certeza de que o Senado da República, sob o
seu comando, na ausência do Presidente, está muito bem entregue e V. Exª, com a
experiência de vida que tem, com o espírito público de que é detentor, saberá
levar o nosso Senado da República, o nosso Poder Legislativo, ao
engrandecimento que ele merece e à posição, dentre os Poderes da República, de
realce que ele sempre teve e que merecerá, sem dúvida, retornar. Seja muito
feliz nesta sua nova função, Senador Jorge Viana, 1º Vice-Presidente do Senado
Federal! Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nos pronunciamentos que fiz
desta tribuna em 2012, dois temas em especial foram predominantes e ao mesmo
tempo preocupantes, pela gravidade dos fatos relatados e pela previsão do
cenário que se vislumbra nas relações e no desempenho de nossos entes públicos.
Não há como deixar de vincular o processo de crise e conflitos por que passam
nossos poderes e instituições com a conduta e a gestão de alguns de seus
agentes, como é o caso do Sr. Roberto Gurgel, à frente do Ministério Público da
União. Não bastasse, por meio de suas atitudes criminosas, o desmerecimento por
ele imposto ao órgão que comanda, o Procurador-Geral vem agora querendo
interferir diretamente na condução, no funcionamento e na autonomia dos Poderes
constituídos.
As mais recentes iniciativas do Sr. Roberto Gurgel
são a prova cabal de tudo que eu tenho exposto e denunciado acerca de seu modus
operandi no Ministério Público e dos crimes de responsabilidade, de
prevaricação e de improbidade administrativa por ele cometidos e que, somados à
inércia por excesso de tempo ao ilícito administrativo e ao procedimento de
controle do ato administrativo, tornaram-se objeto de 7 representações por mim
apresentadas em diversas instâncias de controle do Ministério Público e no
próprio Senado Federal. Até mesmo suas manobras regimentais para se elidir e
obter maioria nos foros que o julgarão no âmbito do Ministério Público revelam
seu temor perante qualquer condenação pelos seus inúmeros crimes.
Igualmente, ao trabalhar no Congresso Nacional, Sr.
Presidente, contra a PEC nº 37, o Procurador-Geral mostra sua incoerência e seu
contrassenso. Se de um lado ele quer garantir o poder de investigação do
Ministério Público, de outro ele se recusa a ser investigado pelo próprio
Ministério Público e seus foros de controle. Afinal, o que pensa e vislumbra o
Sr. Roberto Gurgel sobre o poder de investigar? Uma via de mão única numa só
direção? É tudo muito estranho quando se fala em algo que o rodeia. Causa
inquietude entre nós até mesmo a forma como vem sendo conduzida a questão da
denúncia contra o ex-presidente Lula. Há algo preocupante nesse processo que
ainda não se revelou completamente e para o qual devemos estar muito atentos,
muito atentos ao que se poderá ser urdido nessa esguelha manobra do
Procurador-Geral.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na prática, o que se constata é que os
seus novos e mais recentes atos podem ser traduzidos como o seu assentimento a
cada um dos meus pronunciamentos nesta Casa. Refiro-me às duas últimas
tentativas frustradas de interferência do Procurador-Geral nas mais altas
cúpulas dos Poderes Judiciário e Legislativo.
Primeiro, valendo-se do recesso do Supremo Tribunal
Federal, na presunção de que o Presidente da Corte, na condição de Ministro de
plantão, fosse atendê-lo, ele solicitou a prisão imediata de uma série de réus
de ações penais em curso naquele Tribunal, cujos acórdãos sequer foram
publicados. Com isso, o Sr, Roberto Gurgel feriu e desprezou as regras mais
elementares do Direito, que impedem, em casos como esses, a prisão de qualquer
pessoa, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. Alegar a
necessidade de estabelecer previamente a, abro aspas,
"definitividade", fecho aspas, – esse é um termo cunhado pelo
Procurador-Geral – das condenações, antes da interposição de recursos garantida
aos réus pela própria Constituição, é desprezar as leis do País e a
inteligência alheia. Mais ainda quando se trata de pedido feito aos Ministros
da Corte Máxima do Judiciário.
E o pior, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é
o Procurador-Geral utilizar o argumento de evitar o tempo "excessivamente
longo" – também termo utilizado por ele, palavras dele –, até a conclusão
da ação penal, ou seja, antes da conclusão do devido processo legal, como se o
trâmite judicial fosse regulado pela sua ampulheta. Logo ele que,
invariavelmente, excede todos os prazos e retarda os processos e investigações
sob sua guarda, vem, agora, ele falar em tempo excessivamente longo. Na
verdade, trata-se de pura retórica, de um jogo de palavras que não se coaduna
com os princípios republicanos. Tanto é que o próprio relator da principal ação
penal e hoje Presidente do Supremo Tribunal Federal negou prontamente o seu
pedido, como não poderia ser diferente.
E agora aparece ainda mais uma irregularidade na
administração da Procuradoria-Geral da República. Desta feita, Sr. Presidente,
Srªs e Srs. Senadores – pasmem – desta feita, num pregão eletrônico para
aquisição de 1.200 tablets, num valor global de quase R$3 milhões.
Além de ter sido um processo licitatório escancaradamente dirigido a um dos
concorrentes – a ponto de nominar a empresa vencedora no edital do certame, o
pregão ocorreu no dia 31 de dezembro – esse pregão eletrônico ocorreu no dia 31
de dezembro! – às 4 horas da tarde, rigorosamente ao apagar das luzes do órgão.
Imaginem, Sr. Presidente, o que Ministério Público
não faria se o fato tivesse ocorrido no âmbito do Poder Legislativo, do Poder
Executivo ou mesmo em uma prefeitura do nosso País? Imaginem! Contudo, Sr.
Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, mais grave ainda foi a flagrante, a
indisfarçável e vil tentativa do Procurador-Geral de interferir no processo
eleitoral interno do Senado Federal, ao apresentar denúncia ao Supremo Tribunal
contra um Senador da República uma semana antes do pleito da nova direção desta
Casa. E pior: depois de quase dois anos com o processo estrategicamente
estagnado em sua poltrona. O fato, por si só, é autoexplicativo e dispensaria
qualquer comentário, interpretação ou análise. Entretanto, as declarações do
Sr. Roberto Gurgel, ao tentar explicar o inexplicável, revelam e reforçam ainda
mais tudo que venho denunciando a respeito de sua prevaricadora conduta
funcional, a começar pelo costumeiro vazamento à imprensa de informações sob
segredo de justiça, como ocorrido também no presente caso.
Dois argumentos utilizados pelo Procurador-Geral para se justificar dão a
dimensão de sua habitual desfaçatez. Um refere-se à sua falta de tempo para examinar
o processo por ter se dedicado inteiramente nos últimos anos à ação penal em
curso no Supremo Tribunal Federal. Esquece-se o Sr. Roberto Gurgel que, além
dele, a Procuradoria-Geral da República possui outros 60
subprocuradores-gerais...
(Interrupção do som.)
O SR. FERNANDO COLLOR (Bloco/PTB – AL) –
Obrigado, Sr. Presidente.
A Procuradoria-Geral da República possui outros 60 subprocuradores-gerais que
poderiam perfeitamente ter dado andamento ao processo. Obviamente, como se
trata de autoridade com prerrogativa de foro, ele preferiu avocar o caso para
usá-lo como instrumento – como sempre ele faz quando há processos com pessoas
com prerrogativa de foro – para usá-lo como instrumento de barganha e de
chantagem.
Esse é o seu estilo de condução, esse é o seu comportamento rotineiro, o qual
venho denunciando há exatos nove meses.
O outro argumento que o Procurador-Geral utilizou
para tentar explicar sua intempestiva atitude – tão ou mais pífio quanto o
anterior – foi o de que o Ministério Público "não pode ficar de mãos
atadas, subordinado a só oferecer denúncia quando seja politicamente
conveniente." Ora, Sr. Presidente, conveniente a quem? O que ele fez
foi exatamente se valer de uma conveniência política, o que, aliás, é
incompatível com a natureza do próprio órgão que chefia. Afinal depois de
quase dois anos sem nenhuma providência – o que contraria frontalmente a lei –
resolveu denunciar, uma semana antes da eleição, para o comando de um poder da
República, uma autoridade ligada a esse processo de escolha.
A diferença, então, está apenas a quem convinha o
fato. Portanto, concluindo, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não
bastasse o Sr. Roberto Gurgel vir, há algum tempo, promovendo uma interferência
indébita no Poder Legislativo tanto com ações subterrâneas para impedir a
recondução de um integrante do Conselho Nacional do Ministério Público, como
nas chantagens a um ex-Senador da República, o Procurador-Geral da República
vem agora nitidamente, com iniciativas como esta que abordei, querendo jogar o
Poder Judiciário contra o Poder Legislativo em uma clara demonstração de irresponsabilidade
institucional e de desvio funcional, ainda mais para um agente público que
comanda um órgão, e não um poder da União. Ele acha que está comandando um
poder da União. Tem sempre que se avisar a ele que ele comanda um órgão da
União. Por isso, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, repito: o Senado
Federal não pode, não deve e não vai se mostrar ...
(Interrupção do som.)
(Soa a campainha)
O SR. FERNANDO COLLOR (Bloco/PTB – AL) – ... nem
aos demais poderes. Pelo contrário, chegamos a um momento de afirmação, de
demonstração e exercício de nossa independência constitucional, respaldado,
sobretudo, pela legitimidade do voto popular. E isso foi confirmado com a
eleição do Senador Renan Calheiros para a Presidência desta Casa. Foi uma cabal
demonstração de que o Senado não ser curva aos meios, muito menos ao
Procurador-Geral, um ímprobo, prevaricador, chantagista e contumaz praticante
de ilícitos administrativos e crimes de responsabilidade.
Portanto, Sr. Presidente, quero comunicar a esta Casa que estarei dando
ingresso em mais uma representação contra o Sr. Procurador-Geral. Essa será a
terceira e espero que a Mesa desta Casa possa dar andamento a essas
representações que dei entrada, já no Senado da República. E a terceira
representação a que darei entrada durante esta semana será contra esta
incrível, esta absolutamente reprovável licitação que o Sr. Procurador-Geral
promoveu no âmbito do Ministério Público Federal de R$ 3 milhões. Feita essa
licitação...
(Interrupção do som.)
O SR. FERNANDO COLLOR (Bloco/PTB – AL) – ... às 4
horas da tarde. E eu volto a indagar: imaginem V. Exªs se isso tivesse
acontecido em relação a um dos Poderes da República ou em relação a uma das
prefeituras ou governos estaduais, o que não estaria fazendo o Sr. Roberto Gurgel?
Por isso, fico muito satisfeito e feliz por saber que agora o Senado da
República vai levar adiante essas representações aqui apresentadas e que vão
fazer com que o Sr. Roberto Gurgel, que até agora não ofereceu uma resposta às
denúncias que aqui venho formulando de forma constante e de forma consistente,
tenha oportunidade de apresentar a sua defesa e as suas explicações aos
inúmeros atos ilícitos administrativos, crimes de responsabilidade e de
prevaricação por ele praticados ao longo de sua gestão...
(Interrupção do som.)